sábado, 24 de agosto de 2013

I - CANIBALISMO SAGRADO E SACRIFÍCIOS HUMANOS, por arturjotaef

Deus é antropófago. Por isto os homens são sacrificados a ele. Antes dos homens serem sacrificados, sacrificavam-se animais, pois aqueles a quem eram sacrificados não eram deuses. – Evangelho de Filipe.

"Em muitos aspectos, tanto morais como físicos, os canibais são mais sensíveis do que nós...têm umas espécies de governos, mas nenhum que sistematicamente roube e dê fome aos desamparados; eles podem comer os seus inimigos, mas não os queimam vivos nem os torturam até à morte por causa de trivialidades doutrinais. -- Montaigne [1533 - 1592][1]

 

CANIBAL

«Caraíbas» • (de karaiba, estrangeiro, na língua dos Caraíbas), adj. relativo às Antilhas, Venezuela e Guianas e aos povos que ali habitavam quando lá chegaram os Europeus; • s. m. a língua dos Caraíbas; • s. m. pl. antigos povos antropófagos;

«Canibal» • s. m. • antropófago; • (fig.) homem feroz como os lobos! (< do cruzamento de caribal(o) das Caraíbas com can- de canídeo por haver cadelas que por alguma causa mórbida podem em certas alturas comer as próprias crias logo depois do nascimento)

Caribal = Terme par lequel les indiens Carib se désignaient eux-même et qui signifie "hardi": Encyclopedia Universalis, v Cannibalisme et Trésor de la Langue Française CNRSParis1977v Cannibale.

Les fantasmes européens et les craintes - légitimes - des indigènes se mêlèrent et elles se traduisirent dans le langage pour désigner, dans un improbable fruit du vocabulaire local et de sa version vaguement canine, le canibal espagnol. Comme le note Frank Lestringant: "Colomb n'est pas seulement le découvreur de l'Amérique; c'est d'abord l'inventeur du cannibale". Sur son carnet de bord, en date du dimanche 4 novembre 1492, l'Amiral inscrit sur la foi de ses truchements que plus au Nord de Cuba: "il y avait des hommes avec un seul oeil et d'autres avec des museaux de chiens mangeant les êtres humains".

Não creio que a origem do termo «canibal» tenha a derivação tão simplória como a referida pelos gramáticos, que nem sequer são unânimes quanto a isso.

Caribbean = from Carib, indigenous people's name for themselves, from Arawakan kalingo or kalino, said to mean "brave ones" or else "strong men."

Caribal(u)< Carib < kalingo / grec. < Καλλῖνος - Kallînos < karino < Kaurano.

Para uns, cara-ib seria sinónimo de estrangeiro entre os caribenhos e para outros, seria o nome que estes davam a si mesmos! Tal como se divaga até parece que o termo “canibal” resultaria de um mero trocadilho inventado como o “ovo de Colombo”, a propósito de coisas tão desagradáveis como são sempre fenómenos como o canibalismo e a pedofilia! O termo canibal já devia existir porque a realidade do canibalismo não terá sido descoberta pela primeira vez por Cristóvão Colombo pois os antigos já a conheciam em povos africanos chamados «cafres» ou em variantes arcaica como seria o caso da licantropia. Aliás, é mesmo bem possível que o termo seja uma corruptela alternativa do nome do Carnaval.

«Canibal» < *canipalu ó *canilup(us), lit. “cão lobo”???

                  < Ka-ni-wer, lit. “o que transporta o ka da vida para o céu <

Ka-Ana-Wer > Haanewar > Fen. Hannibal > «Aníbal».

 

Ver. DIONÍSIO (***) & LUPERCALES (***)

 

A conotação canina do nome tanto pode ser posterior ao uso latino deste termo como sobretudo pela relação deste conceito com o culto do canino Anubis que poder ter tido em tempos o nome de *Anuber. De facto, a relação fonética entre canibal e *canipalu faz-nos lembrar Apolo Lucayo, o deus dos “lobos brancos”, que, por relação com Anpu/Anubis dos Egípcios, nos reporta para os “deuses de transporte dos mortos” relacionados com os canídeos (lobos, chacais e hienas) que devoravam os cadáveres que não eram inumados. Ora, e nem mais uma vez por acaso, o arquipélago que exibe hoje o nome das Antilhas aparece nos mapas antigos sob a denominação de Lucayas, Caraibas ou, ainda, Camercanas. Este último nome é sobretudo sugestivo por fazer lembrar Chimalma, mãe de Quetzalcoatl, Deusa Mãe dos Astecas...e de todos os navegantes paleolíticos desde os Camarões à Suméria... ou, dos lendários Sumérios aos longínquos samurais das ilhas de Cipango (< Ki-Phan-Ku, a ilha da Fénix e sol nascente de Benu!)

Isto reporta-nos para a ideia de que Anpu (> Anpu + lu >) / Apolo tenha sido a evolução dum mui arcaico deus da “licantropia canibal” em relação com o culto do “transporte das almas” (= Ka) para uma hipotética ilha dos mortos para lá do “por do sol”, nos mares ocidentais! A peregrinação dos povos antigos fazia-se pelas estrelas da grande via láctea que era o seio da Noite, a grande vaca leiteira que era a deusa mãe primordial! Por terra estes povos procuravam a sepultura do sol no lugar que veio a ser no tempo de cristianismo o túmulo do apóstolo Tiago, em Compostela!

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Figura 1: Anubis e Tote medindo e registando o peso as “penas” dos pecados do coração dos mortos no tribunal “penal” de Osíris.

 

Ver: ASTROS/ ESTRELAS (***) & FOMOIROS (***)

 

Os que se aventuravam por mar iriam mesmo aportar às Antilhas ou Caraíbas!

Notar ainda que, no Egipto, ao lado de Anpu / Anubis aparece sempre Toth nas mesmas funções de deus dos mortos mas, agora no papel das aves comedoras de cadáveres como o abutre e o condor! Em qualquer dos casos estamos seguramente no campo do mais arcaico dos mistérios míticos: o “cultos dos mortos”!

Pois bem, esta tradição dos deuses gémeos, guardiães dos mortos, parece ter permanecido na mitologia dos Astecas, ainda que de forma encoberta, no mito de Quetzalcóatl & Tlaloc.

 

Ver: ANPU (***) & QUETZALCÓATL (***)

 

ORIGEM DO CANIBALISMO EM GERAL

L'anthropophagie est inconcevable. Elle est plus qu'une simple crainte, avec elle ouvre une béance; il est donc logique qu'elle suscite des réactions de rejet absolu. Elle est l'acte le plus ignoble: ignoble par nature, irréductible à la culture, annihilateur de toute dignité; et ce quelles que soient les époques, les sociétés, les lieux. Au point que même reléguée dans l'univers de la mythologie, ou dans celui de l'étranger, elle pétrifie encore. (...) Autrement dit, la question de l'anthropophagie sans raison culturelle, de simple nécessité ou par goût, est un tabou anthropologique absolu. L'anthropophagie doit toujours obligatoirement être requalifiée en cannibalisme car il n'est pas concevable que cet acte puisse être non-signifiant, et même non hautement signifiant. En ethnologie, la proposition même d'une anthropophagie par appétence suffirait à une grave décrédibilisation de l'auteur d'une telle provocation. Tandis qu'en droit, paradoxalement, l'explication de la pulsion cannibalique compte peu, sa seule existence en relègue l'auteur, de factoet irrémédiablement, dans la catégorie des aliénés: ainsi la jurisprudence a-t-elle préféré mettre le comportement anthropophage d'une mère sur le compte d'une aliénation mentale non-reconnue par la médecine dans le but de préserver "l'honneur de l'humanité". Autant dire que l'anthropophage est nié, exclu du champ du droit, pour être coûte que coûte confié à la médecine psychiatrique. (...)Le changement de nature emporte ici changement de degré: de l'inconcevable absolu, l'absorption de chair humaine devient une transgression acceptée car gérée par un ordre dogmatique et encadré par la force édifiante du rituel. Intégrer pour mieux contrôler, telle est la stratégie de l'institution cannibale. -- [2]

A origem dos “sacrifícios humanos”deve ser tão antiga quanto a perversão que transformou o homo erectus omnívoro num homo sapiens apreciador de carne assada e do tutano dos restos dos banquetes dos carnívoros, em companhia dos canídeos.

Os primeiros europeus eram canibais, diz um estudo da France Presse, em Atapuerca:

Restos fossilizados atribuídos aos primeiros europeus, descobertos no sítio arqueológico de Atapuerca (norte da Espanha), revelam que estes homens pré-históricos eram canibais que apreciavam a carne de crianças e adolescentes.

As primeiras escavações nesse local começaram em 1978, e no correr da década de 1980, foram encontrados inúmeros restos de humanos pequenos, uma descoberta significativa para os arqueólogos envolvidos.

"Sabemos, por exemplo, que eles praticavam o canibalismo", afirma José María Bermúdez de Castro, vice-director de Atapuerca, um dos sítios arqueológicos mais importantes da Europa, inscrito em 2000 no património mundial da Unesco. O estudo dos fósseis também revelou que esses homens praticavam a antropofagia para alimentação, e não por ritual, e que comiam os seus adversários depois de os matar em combate.

"É o primeiro caso de canibalismo bem documentado da história da humanidade; não quer dizer que seja o mais antigo", explicou Castro, acrescentando que “os restos do Homo antecessor da Grande Dolina estão dispersos, rompidos, fragmentados, misturados com os restos de outros animais, cavalos, rinocerontes, todos os tipos de animais que são produto da caça e consumidos pelo ser humano".

Os restos fossilizados, encontrados a partir de 1994, correspondem provavelmente aos primeiros seres humanos que se desenvolveram na Europa, batizados de Homo antecessor.

O Homo antecessor, que viveu antes do homem de Neandertal e do Homo sapiens, se instalou há 800.000 anos nas grutas de Atapuerca, provavelmente depois de uma longa imigração a partir da África e através do Oriente Médio, o norte da Itália e depois a França. "Além disso, temos pelo menos dois níveis com restos de Homo antecessor canibalizado, portanto não se trata de um canibalismo pontual, e sim parece que é algo continuado ao longo do tempo". "Depois há outra circunstância muito interessante, que é que a maioria dos 11 indivíduos identificados é de crianças ou adolescentes". "Achamos que há dois jovens adultos, entre eles talvez uma mulher, e isso também pode ter um significado, pois é a morte da base da pirâmide demográfica do grupo", conclui o vice-diretor. (...) No total, cerca de 7.000 fósseis humanos foram encontrados no local.

Obviamente que a taxa de 1/700 de canibalização não revela um canibalismo em massa propriamente dito até porque a canibalização sistemática na base da pirâmide etária teria acabado com a espécie humana. Assim o melhor é concluir que há 800.000 anos, nas grutas de Atapuerca, havia o risco de morrer canibalizado na taxa de 1/700 o que não está muito de acordo com a tese de que “esses homens praticavam a antropofagia para alimentação, e não por ritual, e que comiam os seus adversários depois de os matar em combate”. As crianças e adolescentes não seriam propriamente combatentes e a taxa calculada por alto não sendo pontual também não é reveladora dum canibalismo alimentar regular bastando suspeitar que a taxa de abate de animais de outras espécies terá sido muito superior a 1/700. Mesmo que não fosse uma forma de canibalismo ritual e fosse de facto uma forma de alimentação desviante excepcional esta seria no mínimo aceite para controlo demográfico do grupo.

A domesticação da hiena deve ter começado por esta altura a partir duma bem-sucedida partilha de afectos entre espécies que competiam pelo mesmo nicho ecológico!

L'anthropophagie comme signe du chaos;est un thème si largement répandu qu'il est possible de le retrouver dans toutes les mythologies de la Création, ne serait-ce qu'à l'état de vestiges ou bien caché derrière une symbolique complexe, dans le but de censurer la crudité du fait.  [3]

 

Ver: NUT (***)

 

A morte natural por velhice seria uma ocorrência rara nos tempos arcaicos do alto paleolítico. A mítica longevidade dos patriarcas antediluvianos deve ser uma espécie de sonho mítico de uma minoria de privilegiados do neolítico emergente onde o envelhecimento natural, por ser coisa rara nestes tempos arcaicos, acabou mitificado na forma de antepassados míticos fundadores do grupo citadino neolítico. A maioria dos caçadores paleolíticos arcaicos acabaria caçada por predadores naturais como os lobos ou serem vítimas durante as caçadas de acidentes e mortes súbitas por exaustão sendo abandonados e depois comidos por necrófagos, de que fariam parte outros homens.

L'endophagie funéraire permet d'expliquer ce curieux phénomène de cannibalisme brutal envers un étranger parfaitement intégré. Cette seconde forme de cannibalisme (si on excepte le sacrifice humain) relève de la question du sort à réserver la dépouille de celui qui a cessé de vivre. Que faire du mort qui laisse au groupe un corps si encombrant, comment gérer cette chose? La réponse occidentale traditionnelle a longtemps été (avant la vogue de la crémation) de le faire manger par (ou le réintégrer à) la Terre-Mère. Certes, la réponse n'était pas formulée ainsi, mais cela en est le sens. Dans les groupes de chasseurs - cueilleurs auxquels s'intéresse l'ethnologie, la révolution agraire du néolithique n'a pas pu induire une telle pratique. Au contraire, on y retrouve une pratique plus ancienne, quia peut-être fondée la nôtre: faire manger la dépouille (ou la réintégrer) au groupe. [4]

A licantropia foi aprendida pelos humanos como uma espécie de imitação do canibalismo natural dos lobos. De facto, se os lobos comiam elementos da espécie humana e, sobretudo, se as hienas também comiam os cadáveres dos humanos não inumados, os homens que estavam em vias de fazer amizade com o lobo e se banqueteavam ao lado das hienas acabariam por aceitar a ideia mística de comer também os cadáveres dos humanos! Se os lobos e canídeos “transportavam as almas” dos humanos não inumados para o paraíso comendo-os, à mesma honra e dignidade poderiam aceder os humanos começando por comer o tutano dos ossos humanos deixados pelas hienas e acabando mais tarde por aprender a come-los assadas!

Dito de outro modo, o estranho rito da cremação com os “auto-sacrifícios por amor” que os acompanhavam até há bem pouco tempo na Índia, e os autos de fé da inquisição, podem ter tido esta remota origem nos primórdios da conquista do fogo!

L'examen de certaines sociétés permet même de supposer une parenté plus étroite entre interdits alimentaires et sexuels et de les confondre en une notion indistincte, ce qui laisse penser que la confusion est bien l'état originel des deux notions d'alimentation et de sexualité. (…) Ensuite, l'analogie s'opère encore plus facilement entre inceste et cannibalisme, dont la proximité a déjà été évoqué. De la transgression au viol, du viol à l'inceste et de l'inceste au cannibalisme, il y a plus qu'un glissement de sens, une continuité dans la même notion. Ainsi, si pour les besoins de la cause, nous tentons d'isoler ces différentes composantes, il ne faut pas oublier que c'est par un abus de rationalité. --- [5]

Dolo ó “Delito sexual” ó violação ó incesto ó canibalismo.

Comer sexualmente alguém era sinónimo de conhece-la de forma bíblica o que poderia acontecer de forma suprema quer pelo incesto enquanto amor mais aproximado ao próximo quer pela incorporação total antropofágica!

Os “sacrifícios humanos” podem ter começado por estar relacionados com a vivência dramática da morte solar em relação com fenómenos cósmicos apocalípticos como seriam a queda de cometas ou os eclipses solares.

Ora, se existem locais geográficos onde a “morte do sol” teria sido então particularmente objectiva e dramaticamente vivida seria nas regiões das longas noites boreais da Lapónia.

«Lapónia» [< | Rê < Urash < Kaur | phiania, terra de Kar-ki e das “rena»

(< Re-una) de Alef-inus].

A propósito da mitologia do povo Sami da Lapónia ver:

 

APOLO CARNEIOS (***)

 

O princípio da magia simpática do “similia similibus curantur” teria gerado o impulso cultural para os sacrifícios humanos em honra da morte do sol, facto que nos explica que a prática dos sacrifícios humanos tenham chegado até às Américas onde tenham sobrevivido até à época da provável colonização minóica por Viracocha, quando estas tradições seriam já vestigiais e apenas nos cultos de Tanit, seguramente a mesma que Anat / Atena e Artemisa e continuado de forma paroxística e sem qualquer decréscimo de intensidade até as descobertas ibéricas.

As primeiras grandes civilizações históricas do início da agricultura apresentavam, a par de elevados níveis de desenvolvimento agro pastoril (próprios de uma civilização que tecnologicamente já era pouco menos desenvolvida do que a civilização europeia medieval), um elevado padrão cultural próprio de civilizações sedentária e pacificadas com um grande sentido gregário e de solidariedade social!

Estas civilizações que vieram influenciar fortemente a cultura bíblicas, abandonaram práticas de comportamento antropossocial consideradas bárbaras como os “sacrifícios humanos” (mesmo pelos padrões dos alvores da história precisamente porque os começos da vida citadinas, típica de cidades como Ur ou as da civilização de Harapa do vale do Indo) precisamente porque a convivência social prolongada em ecossistemas fechados, do tipo de oásis como eram as zonas ribeirinhas do crescente fértil, permitiu aos povos das primeiras civilizações históricas terem a intuição de que a vida gregária inerente ao sedentarismo agro-pecuário não era compatível nem com uma actividade guerreira permanente como era a do período cultural da “caça e recolecção” nem, por extrapolação simpática deste princípio de desmilitarização da sociedade, com as vinganças familiares das “leis do sangue”, do tipo da camorra!

Quer isto dizer que o antigo princípio de que o selvagem é um “animal para a guerra” foi progressivamente substituído pelo homem enquanto “animal social”! Evidentemente que na transição duma fase histórica para outra teria que vir a haver um compromisso cultural que se veio a concretizar no aparecimento das castas guerreiras! Porém, quase que seguramente que o fogo das primeiras tentativas de formação de sociedades gregárias agro pastoris nunca teria sido ateado se o equilíbrio instável em que se iriam gerar as energias necessárias para fazer crepitar as primeiras centelhas do fogo da histórica tivesse sido constantemente agitado pela irrequietude aguerrida das castas guerreiras, apagado a “baldes de águas fria” em disputas de caserna ou consumido no “fogo de palha” de guerras de razias.

Felizmente que existiram oásis naturais onde foi possível encontrar alguma paz duradoura mas estes não teriam sido muitos pelas suas próprias características!

Ora bem, e é aqui que começam a surgir as primeiras dúvidas e polémicas pré históricas, estes locais poderiam ter sido verdadeiros oásis localizados no Sará como entendem muitos autores. Fica assim explicada a razão pela qual as primeiras grandes civilizações da história se vieram a desenvolver em locais que, por mero acaso geográfico, até se podem considerar verdadeiros oásis naturais na medida em que se podem resumir a vales férteis no meio do deserto! O Vale do Nilo tem seguramente esta situação típica de vale praticamente inatacável a não ser pela nascente Núbia ou pelo delta donde só poderia ter sido atacada pelo mar. Já a Mesopotâmia não era assim tão invulnerável por ser passível de ataque bélico a partir das montanhas da Assíria sendo esta uma das razões pelas quais as civilizações caldeias não tiveram uma evolução tão monótona como a civilização do Egipto!

No estudo dos povos da Caldeia encontra-se constantemente a demonstração de que a actividade agrícola torna as populações das planícies mais pacíficas do que as das terras altas de serra e montanhas onde a actividade agrícola seria mais difícil, e, por isso, de menor expressão ou mesmo inexistente. O corolário lógico era o de que os serranos eram caçadores aguerridos que acabavam sempre por descer as montanhas e conquistar o poder às cidades das planícies. Como, com o tempo, o ciclo se repetia, confirmava-se que a agressividade dos caçadores e guerreiros nada tinha de condição genética mas que era apenas uma condição necessária à sobrevivência em ambientes adversos! Dito de outro modo, a dieta alimentar dos serranos pode ser mais saudável e permitir uma maior robustez mas, a não ser na situação excepcional dos paraísos tropicais, exigia, pelo menos nos climas temperados, uma maior rudeza de carácter e uma maior dependência da natureza!

Assim, além das condições geográficas adequadas à sedentarização a história necessitou dum estímulo ideológico poderoso ou seja duma verdadeira revolução ideológica que, como costuma acontecer sempre, se manifesta por uma forma particular de desenvolvimento dos meios de produção e que costuma ser precedida de uma qualquer catástrofe natural destruidora de precários equilíbrios ecológicos previamente existentes! Suspeitamos que os locais protegidos que permitiram a primeira centelha de civilização agro-pecuária teriam sido as ilhas do mediterrâneo primeiro Malta e depois Creta!

 

SACRIFÍCIOS HUMANOS NA TRADIÇÃO CLÁSSICA

 

LUCAIAS ou Liceias

En la Antigua Grecia, las Liceas (en griego antiguo Lykaia) eran unas fiestas arcaicas con un ritual secreto en las faldas del monte Liceo, el pico más alto de Arcadia. Los rituales y mitos de este primitivo rito de paso giraban en torno a una antigua amenaza de canibalismo y la posibilidad de una transformación en hombre lobo de los efebos que participaban. La fiesta se celebraba anualmente, probablemente a comienzos de mayo.

El epíteto Liceo (Lykaios, ‘lobuno’) es asumido por Zeus sólo en relación con las Liceas, que eran las principales fiestas arcadias. Zeus tenía sólo una relación formal como patrón del ritual.

Ora, por estranha coincidência, é referido pelas fontes gregas que o dilúvio de Deucalião teria acontecido por causa da abominação do “sacrifício humano”, particularmente de crianças! Possivelmente esta degenerescência moral corresponderia a uma adopção por parte das hierarquias sacerdotal minóica de práticas rituais abomináveis não tanto segundo a ética dos invasores micénicos mas sobre os hititas dóricos ficando explicada a estranha erupção do “mito de Perseu e do Minotauro” no coração da idade de ouro dos minóicos como sendo uma versão censurada a posteriori pela nova ética reinante depois da idade das trevas!

 

Ver: MINUTAURO (***) & DILÙVIO (***)

En la mitología griega Licaón era un rey de Arcadia hijo de Pelasgo (al que sucedió) y de Melibea, Cilene o Deyanira. Otras versiones lo hacen hijo de Titán y la Tierra. Era un rey culto y religioso, muy querido por su pueblo, al que ayudó a abandonar la vida salvaje que habían llevado hasta entonces. Fundó la ciudad de Licosura, una de las más antiguas de Grecia, y en ella erigió un altar a Zeus Liceu. Pero su apasionada religiosidad le llevó a realizar sacrificios humanos, lo que degeneró su posterior metamorfosis. Ovidio afirma que llegó al punto de sacrificar a todos los extranjeros que llegaban a su casa, violando la sagrada ley de la hospitalidad.

Enterado de esta aberración, Zeus se hizo pasar por un peregrino y se hospedó en su palacio. Licaón se preparó para asesinarle, pero alertado por algunas señales divinas, quiso asegurarse antes de que el huésped no era un dios, como afirmaban sus temerosos súbditos.

Los hijos de Licaón eran famosos por su insolencia e impiedad, y sus crímenes llegaron a oídos de Zeus, que se disfrazó de viejo mendigo y acudió al palacio de los licaónidas para comprobar si los rumores eran ciertos. Los jóvenes príncipes tuvieron la osadía de asesinar a su propio hermano Níctimo y servir sus entrañas al huésped, mezcladas con las de animales. Zeus descubrió el engaño y enfurecido convirtió a todos en lobos, los fulminó con su rayo o tuvieron que exiliarse para siempre, según las versiones. Después devolvió la vida a Níctimo, que sucedió a su padre en el reino de Arcadia.

Fue entonces cuando Licaón, inocente, instituyó las lupercales.

A história dos irmão de Níctimo parece-se demasiado com a dos irmão de José do Egipto para não corresponder a uma origem comum na época da revisão dos panteões ocorrida no império hitita no reinado de Tudália IV.

Nictimo, por sua vez parece um caso de iniciação falhado que teria ocorrido precisamente em torno do altar de Zeus Lício. Obviamente que será impossível saber se o caso ocorreu ou não com a cumplicidade de Licaón o pai destes estouvados rapazes com mera conveniência de salvar as aparências respeitáveis do início do patriarcado arcádio.

N-íctimo < Íctimin < *Actimino, o postulado antepassado semântico de todos os deuses de morte e ressurreição pascal.

Sendo assim estamos numa época de transição do matriarcado cretense para o patriarcado actual que terá ocorrido com o fim da talassocracia cretense. Assim este facto terá ocorrido na época bíblica do sacrifício de Isaque, ou seja, já depois do dilúvio.

                                   Ka-Li-on < Ka-ri-on < kauran < Kur-An

Licaon = Li-Ka-on = Ka-Li-on | + Deus

=> Deu-ca-lión, lit. “o espírito leonino do homem de Deus”.

Sem que se tenha reparado nisso antes Licaon / Deu-calión implicam um trocadilho e uma antinomia semântica em torno do mesmo nome relativo ao arcaico deus Kauran / Crono da “idade de ouro”. Por mero acaso (ou nem isso!) Licaon seria uma forma mítica de referir a degenerescência dos descendentes do reino de Saturno. Também, sem que seja por mero acaso, existem referências gnósticas de que Saturno foi deus na época dos sacrifícios humanos, durante festas teofágicas dionisíacas que comemorariam a morte solar de Osíris e de que as saturnalias e lupercalias seriam a sobrevivência latina e a Páscoa católica a sublimação suprema mais recente!

Assim a informação seguinte de Apolodoro não será muito correcta.

Según Apolodoro fue en el reinado de éste último cuando se produjo el diluvio de Deucalión, provocado precisamente por ira que generó a Zeus la impiedad de los hijos de Licaón.

A dar algum crédito aos mitos teríamos, neste caso, que suspeitar que os poetas antigos teriam confundido o mito do dilúvio sumério com o maremoto do cataclismo da Atlântida. Na verdade, a lenda de Perseu atesta que os cretenses sacrificavam anualmente sete jovens atenienses de cada sexo ao Minotauro.

O primeiro Deucalião foi um filho de Prometeu e Climene. Era casado com Pirra. Quando Zeus decidiu pôr fim à idade do ouro dos pelásgios com o dilúvio, Prometeu avisou o filho que construiu um barco de madeira que equipou com provisões, para se salvar do dilúvio.

Assim sendo, é quase seguro que se existiu um segundo Deucalião na época da guerra de Tróia este nada teve a ver com o filho do rei Minos porque o império minóico teria desaparecido precisamente com o dilúvio de Deucalião mais de 300 anos antes do fenómeno do “povos do mar” que terá ocorrido na época da queda do império hitita a que se seguiram as invasões dóricas e a idade das trevas da civilização grega.

O segundo Deucalião viveu muitas gerações depois, e governou Creta. (Foi um filho de Minos e Pasífae, e aparentemente sucedeu seu irmão mais velho Catreu como rei de Creta O segundo Deucalião viveu muitas gerações depois, e governou Creta. Foi um filho de Minos e Pasífae, e aparentemente sucedeu seu irmão mais velho Catreu como rei de Creta.) Este Deucalião foi o pai de Idomeneu, seu sucessor, que esteve presente com uma força armada cretense na guerra de Tróia.

Sendo assim, o chamado segundo Deucalião será um terceiro porque, o segundo seria minóico e terá sido filho de Minos e Pasífae e sucedeu a seu irmão Catreu como rei de Creta sobrevivente ao maremoto, a menos que tenha sido o primeiro uma vez que o filho de prometeu seria ainda mais mítico que este filho de Minos. O que esteve presente na guerra de Tróia seria rei duma Creta micénica e por isso seria um terceiro Deucalião. A prática de sacrifícios humanos nas arcaicas saturnálias antepassadas dos carnavais modernos era seguramente um facto. Possivelmente nas festas dos rapazes sacrificavam-se ao “deus menino” do sol de inverno, todos os estrangeiros capturados durante as caçadas de Outono. Esta prática continuou durante a época micénica pois aparece na Ilíada com o sacrifício de Efigénia.

Artemisa castigó a Agamenón tras haber matado éste un ciervo sagrado en una arboleda sagrada y alardear de ser mejor cazador. En su camino a Troya para participar en la Guerra de Troya, los barcos de Agamenón quedaron de repente inmóviles al detener Artemisa el viento en Áulide. Un adivino llamado Calcas reveló un oráculo según el cual la única forma de apaciguar a Artemisa era sacrificar a Ifigenia, hija de Agamenón. Según algunas versiones, éste así lo hizo, pero la mayoría afirma que Artemisa la sustituyó en el último momento por una corza o una cierva y la transportó a Táurica, en Crimea, donde la convirtió en su sacerdotisa y tenía la misión de sacrificar a los extranjeros como ofrendas a la diosa.

Esta substituição de última hora como a de Isaque é suspeita de censura posterior em nome do religiosamente correcto duma época que acabava de sair da idade das trevas onde a religiosidade paternalista hitita tinha acabado por ser imposta pelos dórios.

Na Ilíada seria também sacrificada de forma bárbara Polixana, uma escrava de Aquiles que decorou a pira funerário de Patroclo com o sacrifício humano de doze cabeças de Troianos.

 

Ver: DEUS MORTO (***) & AQUILES (***)

 

El abaton es uno de los recintos sacrosantos del Liceo y por ello sus límites, según cuenta Pausanias, no podían ser traspasados. El castigo para aquellos que incumplieran la prohibición era fatal, sea cual sea la tradición que sigamos. La más antigua se refiere a la pérdida de la sombra54, pero no es la única, pues otras fuentes hablan de la muerte en el plazo de un año55, la muerte por lapidación56, o el destierro en Eléuteras (esta última sólo si la trasgresión del tabú se producía involuntariamente, lo que añade un elemento moral a la sanción). Traspasar los límites del abaton suponía ofender al dios, mancillar un espacio impracticable, escogido por la propia deidad para su epifanía; de ahí la ferocidad de los castigos. Quienes son incapaces de reconocer los límites de lo sacro no pertenecen a la comunidad, puesto que la comunidad se define por el común acatamiento de las normas. Quienes incumplen las leyes impuestas por los mismos dioses, esas leyes no escritas, rubricadas por la tradición y sólo por la tradición modificables, demuestran que no se preocupan por el bienestar del conjunto y, por tanto, no merecen pertenecer al grupo. Las leyes divinas funcionan a modo de metáfora de las humanas y tanto en unas como en otras el rebelde es siempre un impío. -- El sacrificio humano: víctimas en el monte Liceo, Mª Cruz Cardete del Olmo.

Quem transpunha o abaton era literalmente «abatido»!

O termo grego abaton deriva seguramente de ἄβατος = inexplorado o que aparentemente parece ter pouco ou nada a ver com o acto de sacrificar algo ou alguém

ἄβατος = I. untrodden, impassable, inaccessible, of mountains, Hdt., Soph., etc.; of a river, not fordable, Xen. 2. of holy places, not to be trodden, like ἄθικτος, Soph.: metaph. pure, chaste, ψυχή Plat. <= Βαίνω = walk, step.

ἄβατος < a-βαίνω

«Abater» < Lat. baixo ab-ba-tu-ere < latim tardio abbatuere, do latim bat-tu-ere, > «bater» = v. tr. abaixar = inclinar (bandeiras); • diminuir, descontar; • cortar (árvores); • matar (gado); • (fig.) humilhar, deprimir; (só?) => matar = Fr. tuer < Lat. Tundere?

Ora bem, acontece que entre o grego bαίνω e o latino battuo existe um elo semântico com a mesma fonética que é o conceito do «batedor» como sendo “aquele ou aquilo que bate” > o que “levanta a caça” (batendo nas moitas e arbusto com uma vara) > soldado explorador que vai na vanguarda do exército (batendo tambor), etc. o que significa que já houve uma semântica comum entre “bater terreno” e “abater caça”, semântica que terá estado presente também no grego e terá lavado a que o cognatismo entre estes termos seja menos falso do que poderia parecer!

O simples facto de condenar à morte alguém que cometesse o sacrilégio de transpor espaços imbatíveis permite a conotação entre abater e matar que existe em português corrente para animais ou plantas mas que é considerado impróprio para humanos quiçá como consequência de um atávico tabu inconsciente contra os sacrifícios humanos celebrados em tempos arcaicos na Acádia possivelmente em honra não Zeus Liceu mas de Pan Liceu e precisamente talvez no espaço interdito do Abaton!

Un santuario de Pan también estaba situado en la montaña. Según la tradición, Evandro, hijo de Hermes, guio una colonia desde Palantion en Arcadia hasta Italia, donde construyó la ciudad homónima en el monte Palatino e introdujo el culto a Pan Liceo y las fiestas de las Liceas, que más tarde se convertirían en las importantes fiestas romanas de las Lupercales. (…)

Cerca del antiguo montón de cenizas donde los sacrificios tenían lugar había un recinto prohibido donde, supuestamente, ninguna sombra era jamás proyectada. Estaba la cueva de Rea, la Kretaia, donde según la leyenda local nació Zeus y fue cuidado por las ninfas.

Que a cova de Rea no centro da Acádia se chamasse Cretaia só pode ser mais um dos muitos equívocos com que se tecia a mitologia permitindo assim a proliferação de termos e conceitos porque do erro termodinâmico e do jogo de azar probabilístico se cria e gera a complexidade que faz a fortuna dos povos e a riqueza natural. Obviamente que a origem do mito de Rea na Acádia só poderia ser cretense mas o facto de os locais não darem conta da duplicidade de locais de nascimento do seus rei dos deuses só demonstrava que também não relacionavam o nome da gruta com Creta.

 

Ver: LUPERCO (***)

 

Pero fue Walter Burkert (1983, 90-91) quien, a mi juicio, mejor ha explicado y analizado los ritos del Liceo en su contexto social, defendiendo su carácter iniciático como rito de paso necesario para que los adolescentes pudiesen entrar en la edad adulta, al igual que ocurría en las Krypteia espartanas50. La hipótesis de Burkert esclarece unos ritos que durante siglos se han mantenido cubiertos de misterio romántico y que no son ni más ni menos oscurantistas ni salvajes que otras ceremonias religiosas de las que nos hablan las fuentes.

En la República, Platón, por boca de Sócrates, afirma que en los ritos relacionados con el Liceo “quien ha probado entrañas humanas mezcladas con las de otras víctimas, necesariamente (¿??) se convierte en lobo”».

Ou seja, “quem não quer ser lobo não lhe veste a pele”!

 

SACRIFÍCIOS HUMANOS FUNDACIONAIS

Foundation Sacrifices: "In palestine, numerous bodies of children discovered in the foundations of buildings leave no room for doubt that oblations [offerings] of this character were of common occurrence among the canaanites to strengthen the walls of houses and cities. Thus, in the whole area of the high place at gezer skeletons of new-born infants were buried, deposited in jars with food-offerings in smaller vessels, two at least of the bodies showing marks of fire...that the infants were an oblation of first-born devoted to the temple from birth may be deduced from the fact that they were less than a week old, and from the occurrence of similar offerings in the corners of houses or under the foundations." Sacrifice and Sacrament by Dr. E. O. James. Barnes & Noble Publishing. NY. Dr.James is Professor Emeritus of History of Religion London UniversityPage-95

A verdade é que os aspectos rituais referidos seriam meras práticas residuais herdadas do passado e a que apenas se recorria em épocas de maior crise e carestia ou em situações de máxima importância social e formal. De resto, se o trabalho infantil foi de regra até há poucos anos e, por isso, se as crianças seriam o grupo de maior sinistralidade laboral seria quase uma honre que as crianças que morriam a trabalhar fossem enterradas nas fundações dos edifícios que ajudavam a construir. Obviamente que há que saber se os restos mortais encontrados pelos arqueólogos já teriam idade para trabalhar de serventes de pedreiros.

Le sacrifice est la grande fabrique du sacré (sacer facere). Il s'agit d'offrir la propriété d'un bien (homme ou chose) à un dieu, ce qui rend ce même bien sacré. La fonction sacrificielle est connue depuis longtemps dans les sociétés non-étatiques, mais de façon diffuse. Elles n'instituent pas de sacrifice en tant que tel, la pratique se rapprochant le plus d'une telle institutionnalisation étant constituée par l'intichiuma c'est-à-dire par la mise à mort et la dévoration de son propre totem. [6]

In-ti-chi-u-ma = Cerimónias sagradas executadas por alguns povos aborígines australianos, dirigidas a plantas, animais, e fenómenos naturais com significado totémico.

The authority which is wielded by an Alatunja is of a somewhat vague nature. (…) Perhaps the best way of expressing the matter is to say that the Alatunja has, ex-officio, a position which, if he be a man of personal ability, but only in that case, enables him to wield considerable power not only over the members of his own group, but over those of neighbouring groups whose head men are inferior in personal ability to himself. The Alatunja is not chosen for the position because of his ability; the post is one which, within certain limits, is hereditary, passing from father to son, always provided that the man is of the proper designation—that is, for example, in a kangaroo group the Alatunja must of necessity be a kangaroo man. (…)

The most important function of the Alatunja is to take charge of what we may call the sacred store-house, which has usually the form of a cleft in some rocky range, or a special hole in the ground, in which, concealed from view, are kept the sacred objects of the group. Near to this store-house, which is called an Ertnatulunga, no woman, child, or uninitiated man dares venture on pain of death.

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At intervals of time, and when determined upon by the Alatunja, the members of the group perform a special ceremony, called Inti-chiuma, (…) and the object of which is to increase the supply of the animal or plant bearing the name of the particular group which performs the ceremony. Each group has an Intichiuma of its own, which can only be taken part in by initiated men bearing the group name. In the performance of this ceremony the Alatunja takes the leading part; he it is who decides when it is to be performed, and during the celebration the proceedings are carried out under his direction, though he has, while conducting them, to follow out strictly the customs of his ancestors. (…)

It may, however, be pointed out that, while every group has its Alatunja, there is no necessity for each to have either a medicine or an Irun-tar-inia man, and that in regard to the position of the latter there is no such thing as hereditary succession.

When we find, for example, that amongst the Arun-ta natives a man calls a large number of men belonging to one particular group by the name “Ok-nia” (a term which includes our relationship of father), that he calls all the wives of these men by the common name of “Mia” (mother),  and that he calls all their sons by the name of “Ok-ilia” (elder brother) or “Itia” (younger brother), as the case may be, we can come to no other conclusion than that this is expressive of his recognition of what may be called a group relationship.

A religião totémica é possivelmente a forma mais arcaica de manifestação religiosa e não terá comparação entre as culturas neolíticas antigas porque já teria evoluído ainda que seja possível postular que esta seria uma mera variante do xamanismo de que aliás o termo Inti-chiuma estaria próximo. De facto há fortes probabilidades de tanto a Austrália como a polinésia terem sido povoados ainda antes do neolítico por povos marinheiros da época megalítica provenientes das costas das regiões mais ocidentais da Europa e que teriam uma cultura marítima e língua comum com os povos do mar Egeu. Assim sendo, o alatunja aborígene australiano seria o “presidente da junta” local ou algo próximo de *arantuja.

Arunta < Har-Antu + cha > *arantuja > alantuja > Alatunja.

Alatunja seria literalmente tão só e apenas o pequeno Arunta, o filho da grande cultura dos Aruntas, povo que teria adorado a grande deusa M(i)a Antu que quotidianamente paria o sol com a aurora para o devorar à noitinha. A ele seriam votados sacrifícios humanos de que os Aruntas se terão fugindo por mar e criando uma cultura nova que lhe era adversa. Na verdade, terão sido muitas a tentativas culturais para fugir ao jugo pesado do matriarcado cretense e todas elas muito precoces só tendo ficado memória recente entre os fenícios, alguns celtas mais nórdicos e fanáticos e, enfim, os ameríndios sobretudo astecas.

Mesmo entre os fenícios, que eram reconhecidos como praticando sacrifícios humanos, estes terão sido apenas e sobretudo intensos em Cartago perante as desastrosas derrotas dos seus exércitos nos finais das guerras púnicas.

Les rituels comportent ainsi deux fonctions. La première fonction des rituels est de légitimer certains actes de la vie quotidienne qui sont spécialement dangereux car fortement sacralisés. Dans ce cas la forme du rituel rappelle le mythe qui explique l'origine de cette pratique et permet de réguler la vie de tous les jours en harmonie avec les commandements mythiques.

(…)  La seconde consiste à reproduire symboliquement toute la mise en mouvement du cosmos afin de le réactiver, de le relancer par cycles, de craintes que la dynamique de la création ne s'arrête d'un coup. Cette seconde forme s'expriment au moment de grandes célébrations annuelles qui reproduisent le passage du sauvage au civilisé. Les institutions sont alors suspendues le temps de la fête et la transgression devient la règle, mais il s'agit d'une transgression codifiée qui n'a rien en commun avec la licence, son but étant de figurer le chaos dionysiaque en respectant la forme que lui ont prêté les mythes: anthropophagies plus ou moins déréglée, orgies sexuelles, consommation du totem... La fin de la fête célèbre la mise en ordre définitive de l'univers, par la simple remise en vigueur des règles quotidiennes.

Le tabou comme pénalité naturelle; forme l'ossature du système des interdits qui est mis en scène par les rituels. Le terme tabou est un mot polynésien qui désigne l'ambivalence du sacré en traduisant la "terreur sacrée" qu'il inspire. Mais ces restrictions tabou ne procèdent pas d'une logique de l'interdit telle que la pensée contemporaine pourrait la concevoir, car leur essence n'est ni morale, ni religieuse, ni juridique. En effet, les prohibitions tabou ne constituent pas un système éthique qui détermine les interdictions par une raison, la transgression se suffit à elle-même et le châtiment se déclenche automatiquement, en vertu d'une nécessité interne. Le tabou violé se venge tout seul car, par simple contact, la force terrible dont il est le siège se libère et détruit l'imprudent qui n'est pas assez puissant pour la supporter.

Le mode de fonctionnement du tabous' apparente donc plus à celui d'un principe de la physique que de celui d'une disposition normative.

Cependant cette "action-réflexe" d'autoprotection du sacré induit indirectement une réaction de protection de la société contre le transgresseur. Son infraction l'ayant exposé à la force du sacré (le mana), il devient lui-même tabou car au contact de la sacralité, il s'est chargé d'une part de ce mana qui le retranche de la société de sessemblables, à moins qu'un rite de purification n'ait été prévu. Le passage vers une appréhension pénale commence donc à se dessiner.

(…) Le totem est en règle générale un animal comestible (plus rarement une plante et exceptionnellement une force naturelle) qui se trouve dans un rapport particulier avec l'ensemble du groupe clanique. Ce rapport s'exprime en trois étapes d'une chronologie imprécise: le totem est l'ancêtre mythique du groupe, sa sacralité n'est pas ambivalente pour les membres du clan qu'il protège, car ils se soumettent à un interdit de consommation de sa chair; ce n'est qu'en cas de violation de l'interdit que la force destructrice du tabou réapparaît derrière le totem. La division de la tribu en clans totémiques se présente donc à première vue comme un mode de gestion du sacré. Or, il ne faut pas oublier que si la mort violente est considérée comme une tragédie individuelle, cette conception n'est que le fruit d'une société qui met l'accent sur l'individu. Ainsi, la mort est un phénomène qui supporte une interprétation toute différente au niveau du groupe. [7]

 

Ver: “DEUS MORTO” OU A MORTE SACRIFICIAL DO PRIMOGÉNITO DE DEUS! (***)

 

No entanto, existem explicações para a prevalência do canibalismo nos períodos mais arcaicos da história humana com laivos idilicamente tão rusonianas quão contraditórias:

The development of agriculture created more food, but life was not simple: more food made possible more people, and agricultural societies remained on the brink of inadequate nutrition. And with the greater dependence upon growing their own food, people were more vulnerable to disaster. (…) Agricultural societies were more vulnerable to storms and drought. Domesticated plants were vulnerable to insect ravages in ways that wild plants were not. Archaeologists have found in the bones of children in agricultural societies more signs of malnutrition than that of people living from hunting and gathering, and the average height of early farming populations has been discovered to be shorter than that of hunter-gatherers.

Este facto é particularmente curioso por pôr os vegetarianos em causa, ou pelo menos de sobreaviso sobre os riscos de mal nutrição que uma dieta pobre em proteínas de origem animal pode acarretar. De resto é sabido que as novas gerações que nasceram e cresceram na época pós moderna da fartura de produtos de origem animal tendem a ser de facto mais altos mas também...mais obesos[8].

Also, the crowding of people in more populous societies was accompanied by unsanitary conditions. People living close to each other tended to be careless about their refuse, sewage and their water supply. They knew nothing about bacteria. They saw their gods as instructing them about life, but here instruction was lacking, and their ignorance was costly. They suffered from disease epidemics that had been rare among hunter-gatherers. Perhaps fewer than half of the children of agricultural societies lived past the age of ten.

Se as coisas fossem assim tão pessimistas para o lado da agricultura esta nunca teria vingado como sistema de organização social, considerada pelo senso comum como portador de vantagens comparativas em relação ao sistema anterior de “caça e recolecção”! O facto de a agricultura ter tido que enfrentar novos problemas ambientais criados pela própria lógica dum sistema de exploração da natureza que era, de certo modo, contra natura, chegando mesmo a ser ab início, anti-ecológica em alguns aspectos, não significa que a chamada revolução neolítica tenha sido desde logo uma regressão adaptativa da espécie humana em relação ao período evolutivo paleolítico que a antecedeu! A prová-lo está o estrondoso sucesso que este sistema teve, pelo curto espaço de tempo que demorou a chegar à época industrial.

Quer isto dizer que nem os povos do início do neolítico se aperceberam dos riscos que estavam a correr nem tinham a sensatez suficiente para saberem que as “saudades das cebolas do Egipto” eram meras armadilhas em que a história se estava a meter? Obviamente que a questão da evolução social nunca foi uma questão de opção consciente dos povos e se existe um aparente paradoxo nas vantagens comparativas do neolítico há que tentar explica-lo!

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Figura 2: Visão gráfica da relação vigência temporal do Neolítico e do Paleolítico Superior.

Ora, a explicação até é mais simples e intuitiva do que poderia parecer! Os mitos que fazem da agricultura uma dádiva de deuses bondosos ou uma aquisição de sábios humanistas mais não fazem do que revelar nas entrelinhas que ela apareceu como solução inevitável para tempos de carestia e em lugares de recursos escassos limitados. O mito de “José no Egipto” e a realidade histórica de Imhotep são exemplos significativos disto mesmo!

Na época rural era fácil relacionar as crises com as épocas de fome e estas com as intempéries naturais e com variações climatéricas. Mas a causa destas variações permanecia no segredo dos deuses e era, como todas as grandes ignorâncias humanas, atribuída ao castigo dos pecados humanos. Mesmo assim, a primeira evidência duma relação de causalidade entre a actividade climática e economia vem dos tempos bíblicos e dos faraós do Egipto.

“Então o Faraó contou o sonho a José. “(…) De repente vi que sete vacas belas e gordas saíram do rio e ficaram pastando no capinzal da margem. Logo depois saíram outras vacas – mas estas eram fracas, feias e magras. (…) “Tornei a dormir e tive outro sonho. Sonhei que de um só talo saíam sete espigas boas e cheias de grãos. Depois nasceram no mesmo talo sete espigas feias, secas, queimadas pelo vento leste. (…) “Os dois sonhos são um só,” disse José. (…) “Vamos ter de agora em diante sete anos de muita fartura em todo o território egípcio. Depois vamos ter sete anos de fome. (…) “Agora dou esta sugestão a Faraó: “Faraó deve escolher um homem sensato e inteligente. Ele deverá ter autoridade sobre o país inteiro. (…). Toda a mercadoria recebida será guardada em armazéns e depósitos – como propriedade do rei. Assim o povo poderá ser sustentado com as provisões do Faraó, durante os sete anos de fome que virão. E a nação sobreviverá à crise.” (Génesis 41, 17-36).

José só se terá enganado em dois anos, se for possível demonstrar que os ciclos solares da época dos faraós não seriam de 14 anos!

Escusado será dizer que mesmo no Antigo Egipto esta lenda já era considerada antiga. Segundo uma inscrição do Período dos Ptolomeus gravada numa rocha da ilha de Sahal, no Nilo:

“No décimo oitavo ano do reinado de Joser, o terceiro faraó da 3ª dinastia, a fome abateu-se sobe o Egipto porque sete anos haviam já passado sem cheia do Nilo. (…) O relato desta terrível situação chegou ao faraó que, sentado no seu trono, sentiu um grande desgosto. Recordou-se do deus Imotep, filho de Ptá, que já uma vez tinha livrado o Egipto de um desastre semelhante.”

Jos-(er + Imhot)-ep => Jos-ef > José.

O nome de José, o filho do patriarca bíblico Jacob, é afinal uma mistura do nome do faraó Joser ou Geser, que mandou construir a primeira pirâmide em degraus de Sacara, com o de Imotep, o grande sábio que a arquitectou. O reinado de Joser foi politicamente e economicamente tão estável que este até se deu ao luxo de mandar restaurar a grande esfinge de Gize onde aos pés da qual deixou uma lápide comemorativa. Os restauros modernos descobriram que nesta ficou gravado o sonho premonitório do seu sucesso, que já na altura teria sido famoso. Assim, a lenda bíblica de José do Egipto, será uma cópia em segunda mão de há mais de 5 mil anos, mas isso são outras histórias.

Ora, como já foi glosado até à saciedade, os locais que necessitavam duma gestão exaustiva e ordenada de recursos naturais com meios tanto naturais quanto artificiais eram as ilhas e oásis mediterrânicos e tiveram os vales fluviais do chamado crescente fértil como locais privilegiados de sucesso!

No entanto, “como nem só de pão vive o homem mas de toda a palavra que vem de Deus”, as vantagens deste sistema foram sobretudo adicionais, supervenientes e invisíveis porque de natureza espiritual e cultural pelo acréscimo de tempo/pessoa não afecto às actividades produtivas que este sistema permitia, condição civilizacional sine qua non resultante dos primeiros passos dados pela humanidade no sentido da acumulação de capital e riqueza!

Afirmar que a revolução neolítica acabou por trazer mais problemas do que soluções para aqueles que pretendia resolver seria contrariar a lógica impiedosa do gráfico anterior. A verdade é que o principal problema ecológico da agro-pastorícia foi o de reduzir os predadores naturais do homo sapiens ao mínimo e de expor o homem à promiscuidade da vida urbana e aos predadores invisíveis que eram as doenças infecto-contagiosas.

No entanto, a revolução neolítica foi também o início da civilização enquanto começo de vida urbana e foi esta mais-valia, com todos os seus ricos e preços ecológicos, que veio a marcar a diferença cultural decisiva e que veio trazer vantagens comparativas à vida sedentária da agro-pastorícia!

Assim sendo, se os estudos da antropologia arqueológica revelam uma maior tendência dos povos dos primórdios da agricultura para a malnutrição, facto que se aceita como decorrente da baixa qualidade nutritiva da dieta monótono da maioria da população, a verdade é que estes estudos omitem, por limites óbvios na investigação, que estes povos eram maioritariamente formados por hordas de escravos que de outro modo teriam sido massivamente sacrificados em rituais sangrentos como os dos Astecas ou em razias guerreiras! Na mesma linha de raciocínio, seria necessário determinar para os mesmos locais se a densidade populacional efectiva teria ou não compensado uma malnutrição que a la longue acabaria por interferir na morbi-mortalidade geral da população e, por cause, na sua densidade!

(…) In agricultural societies, misfortune was explained as the work of displeased gods, and early farmers were eager to please the gods by sending them what gifts they could. It was believed that killing someone or an animal sent that creature to the invisible world of the gods.

A afirmação seguinte é valida ipsis verbis para todos os períodos da história da humanidade em que os critérios de pensamento mágico e irracional prevaleceram sobre os racionais e, pela lógia natural das coisas este terá sido sobretudo predominante no período anterior ao neolítico. Sendo assim, a parte seguinte do texto começa a revelar-se altamente questionável!

And what gift was better than a servant in the form of another human? People saw the sending of one or a few members of their society to the gods as a good bargain insofar as it assured the survival of the entire society. Those sacrificed might be children, or they might be a person who had incurred the wrath of various people or the king. Or someone might be sacrificed who had been a stranger seized on some pathway or held captive from war. (…) Sacrificing people took place among agricultural people in India, in Egypt and elsewhere in agricultural Africa. Human sacrifice existed among agriculturalists in Europe and in West Asia, where the sacrifice might include scapegoating -- an attempt to avoid calamity by people passing their sins to a chosen person who was then slain or sent away, maimed, and left to die.

Como é óbvio, as afirmações que este autor faz começam a ser discutíveis na medida em que carecem de rigor no que respeita tanto à definição como à delimitação dos termos de comparação que utiliza. Uma coisa é afirmar que os “sacrifícios humanos”ainda se verificavam nos alvores da história um pouco por toda a parte onde a revolução do neolítico tinha acabado de chegar e outra seria afirmar que só ai se verificavam “sacrifícios humanos”porque então, de acordo com a lógica evolucionista, teríamos que conseguir provar que estes nunca teriam existido em sociedades paleolíticas.

Ora, a simples afirmação do mesmo autor de que...”Animal and human sacrifices appear to have been less prevalent in hunting and gathering societies, such as those on the plains of what is now the United States or societies in ancient Austrália”…prova, pelo menos que estas práticas já vinham do passado! Neste caso estaríamos perante meras divergências quanto à intensidade dum fenómeno cuja natureza e qualidade era, inquestionavelmente arcaico e primitivo!

Como o autor refere taxativamente que se trata apenas duma aparência é bem possível que a tese clássica se mantenha ainda a mais lógica e então, a verdade teria sido mais ou menos a de que os sacrifícios humanos eram uma forma de exercício do direito penal nas sociedades primitivas paleolíticas que progressivamente foi substituído pela escravatura pelas óbvias vantagens económicas que este sistema penal apresentava em sociedades que necessitavam do uso de mão-de-obra intensiva para aplicar no desenvolvimento da agricultura, tese este que foi tacticamente demonstrada pela realidade histórica do esclavagismo moderno.

A lógica produtiva da actividade agropecuária é a de que toda a mão-de-obra faz falta nos trabalhos agrícolas. A riqueza emergente das famílias dependia da fertilidade tanto das esposas como do gado e dos escravos!

A regra era a de que, à medida que a sociedades iam evoluindo para sistemas produtivos mais complexos, ficariam mais necessitados de “mão-de-obra” acessível e barata, como era o caso da agricultura intensiva, da incipiente industria nascente na forma de artesanato citadino e da manutenção do fausto palaciano, acabava por substituir pela “escravatura” o desperdício que era matar os prisioneiros de guerra, fosse passando-os a fio de espada durante os saques que imediatamente se seguiam às vitórias fosse em hecatombes de “sacrifícios” humanos em festas triunfais.

 

TESES MATERIALISTAS PARA OS SACRIFÍCIOS HUMANOS

As teses materialistas modernas parecem partir da ideia de que o canibalismo dos ameríndios não seria sagrado senão por mera hipocrisia cultural, na medida em que se tratava de matar humanos propositadamente para os comer. No entanto, esta prática alimentar parece ter sido mais absurda então do que seria hoje na medida em que os povos primitivos se regiam, muito mais do que os modernos, por regras morais e religiosas do que por conceitos pragmáticos e racionalistas! Os interditos alimentares eram ainda mais complexos do que os tabus sexuais! A ideia de comer cadáveres humanos por mero cinismo economicista e por pragmatismo ecológico parece pouco credível na esfera do imaginário dos povos primitivos.

 

A GRANDE FOME IRLANDESA DA BATATA

Nos séculos XVIII e XIX, a fome não era novidade para os irlandeses. O flagelo tornara-se parte integrante da paisagem social e castigou ininterruptamente o país por quatro vezes: de 1725 e 1729; de 1740 a 1741; em 1836, 1837 e 1839; e, finalmente, de 1845 a 1849. Sua volta recorrente relacionava-se com o extraordinário crescimento demográfico. Com mais de 8 milhões de habitantes recenseados em 1841, a Irlanda era o país mais povoado da Europa. -- A grande diáspora irlandesa, por Pierre Joannon.

Uma das teorias positivistas avançadas foi a de que os “sacrifícios humanos”seriam uma resposta à penúria e às fomes cíclicas provocadas pela explosão demográfica das populações astecas em resultado do excessivo sucesso da exploração intensiva do milho nas férteis regiões subtropicais centro americanas. Dito de outro modo estaríamos perante a demonstração, a nível de toda a história de uma grande civilização, dos riscos nefasto da monocultura intensiva que teve a sua expressão moderna mais dramática na fome da Irlanda de 1840.O sucesso do crescimento demográfico da Irlanda era uma mistura de razões ecológicas, políticas e religiosas.

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O Senhorio da Irlanda dominou toda a ilha irlandesa e foi criado na sequência da invasão normanda da Irlanda, entre 1169 e 1171. A partir daqui a Irlanda iria tornar-se progressivamente numa verdadeira colónia inglesa. Segundo e acordo com Benjamin Disraeli, em 1844 a Irlanda tinha "uma população morrendo de fome, uma aristocracia ausente, uma Igreja alienígena, além do mais fraco governo executivo do planeta." Entre 1801 e 1845 houve 114 comissões e 61 comités especiais visitando resolver a questão política do estado da Irlanda e "todos sem excepção profetizavam um desastre; Irlanda estava a beira de uma fome em massa, sua população crescendo rapidamente, três quartos dos trabalhadores desempregados, péssimas condições de moradia e nível de vida inacreditavelmente baixo."

A comissão concluiu que a principal causa era a péssima relação dos donos de terra com seus empregados. Não existia realeza hereditária, laço feudal ou paternalismo como na Inglaterra.

Em 1829 os católicos eram aproximadamente 80% da população, a maioria vivendo em condições de pobreza e insegurança. No entanto, no topo da pirâmide social estava a classe ascendente protestante e as famílias Anglo-Irlandesas que eram donas da maiorias das terras e que tinham poder ilimitado sobre seus vastíssimos domínios. Muitos dos senhores destes domínios eram de uma "aristocracia ausente" que viviam na Inglaterra e usavam agentes para administrar as suas propriedades, com o lucro sendo enviado para a Inglaterra. Uma boa parte deles nunca pisou o solo da Irlanda. Eles pagavam salários mínimos para a plantação ou criação de gado para exportação. A Irlanda era a vacaria dos melhores bifes ingleses!

De acordo com Woodham-Smith, os donos de terra Irlandeses achavam que as suas terras eram apenas fonte de riqueza de onde deveriam extrair a maior quantidade de dinheiro possível para ir gasta-lo em Inglaterra.

Durante o século XVIII foi criado o sistema do "homem do meio", para negociar com os donos de terra, descrito pela comissão como "opressivo e tirano que ajudou à destruição do próprio país", e estes intermediários eram descritos como "tubarões de terra" e "vampiros".

O homem do meio alugava grandes quantidades de terra dos donos a uma taxa fixa que era definida como eles bem entendiam. Então dividiam essa terra em vários pequenos lotes para aumentar a quantidade de aluguéis que eles podiam obter, um sistema conhecido como germinação. Os locatários podiam ser expulsos por razões como não pagamento dos aluguéis, que eram extremamente altos, ou pela decisão do dono da terra de criar ovelhas em vez de semear cereais. O locatário pagava o aluguel trabalhando para o dono da terra.

A batata foi introduzida na Irlanda como uma planta de jardim. Pelo fim do século XVII tornou se um alimento suplementar mas a dieta principal ainda era de pão e leite. No século XVIII, a base da alimentação do mundo rural irlandês, altamente empobrecido, era a batata, porque esta colheita trazida da América do sul teve um enorme sucesso ecológico no solo irlandês onde produzia mais comida por hectare do que trigo. Por outro lado, o excesso demográfico levou à divisão progressiva por das propriedades rurais acabando tão pequenas que mal davam para plantar batata, pois nenhuma outra plantação rendia o suficiente para sustentar uma família. Por causa da prática do conacre os camponeses precisavam produzir a maior colheita possível no mínimo "campos de batata” que podiam alugar. Por outro lado as famílias precisavam de ser numerosas para ajudarem nos "campos de batata” e excedentariamente irem ganhar dinheiro a trabalhar os campos de gado dos senhorios coloniais ingleses. A Irlanda era católica e portanto conservadora e natalista e a Igreja abençoava implicitamente a explosão demográfica irlandesa.

No entanto, apesar do sucesso da cultura intensiva dos "campos de batata”, a Irlanda não conseguia sair do seu ciclo infernal de pobreza. Deve ter sido a análise desta fatalidade que motivaram Maltus a postular a hipótese de que as populações humanas crescem em progressão geométrica enquanto os meios de subsistência poderiam crescer somente em progressão aritmética. Segundo ele, esse crescimento populacional é limitado pelo aumento da mortalidade e por todas as restrições ao nascimento, decorrentes da miséria e do vício.

“Os irlandeses viviam de batatas, como os chineses, de arroz”, escreveu Paul Dubois, autor de um estudo sobre a questão irlandesa, que se transformou em livro de cabeceira de Winston Churchill. “Se a colheita fosse ruim, haveria uma catástrofe”, analisou. E elas foram três consecutivas, não uma.

No segundo semestre de 1845, em poucos dias o míldio, um fungo do bolor, destruiu três quartos da produção de tubérculos. Em 1846 e 1847, a perda foi total. Desesperada, em pouco tempo a população não tinha outra alternativa a não ser emigrar ou morrer. Um milhão e meio de irlandeses cansados, famintos e doentes precipitaram-se rumo aos Estados Unidos e Grã-Bretanha, suscitando uma animosidade reforçada pela repulsa, em vez de compaixão. Alguns navios se tornaram verdadeiras sepulturas, que nunca chegaram ao porto de destino. “Se fosse possível fincar cruzes sobre a água, a rota dos emigrantes pelo Atlântico seria um imenso cemitério”, afirmou um comissário da imigração.

(…) Exangues e descarnados, morriam às centenas nas cabanas e nos canteiros de obras e formavam verdadeiros depósitos de mendigos – dos quais Charles Dickens nos deixou horripilantes descrições. “Em vários pontos, as estradas são cemitérios. Os cocheiros já não saem sem encontrar cadáveres pelo caminho e, à noite, passam por cima deles”, relatou um religioso. Aqui e acolá, registravam-se casos de canibalismo. Corpos semi-roídos por ratos ou despedaçados por cães errantes eram um espetáculo corriqueiro. Já não havia registros de óbitos, cerimônias religiosas ou caixões: os mortos eram transportados às pressas em uma carroça de fundo basculante, de onde caíam diretamente numa vala comum.

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(…) Na primavera de 1847, a fome deixou de ser o único flagelo. Vieram se somar a ela as epidemias de tifo, febre intermitente, escorbuto e disenteria bacilar, além do terrível edema da fome, que se traduz por um inchaço hidrópico dos membros e, em seguida, do corpo.

(…) Não se sabe quantas vítimas a epidemia fez, mas estima-se que as doenças tenham matado mais gente do que a própria fome. Nem as classes abastadas foram poupadas: landlords, padres, médicos e funcionários também pagaram seu tributo. -- A grande diáspora irlandesa, por Pierre Joannon.

Os repórteres do London News enviados para os campos da Irlanda em 1849 não cobrirem a Grande Fome que grassava na ilha pelo terceiro ano consecutivo não imaginavam o que os aguardava: Onde esperavam ver a celebrada cor esmeralda das terras irlandesas, depararam-se com uma assustadora paisagem lunar. Espalhados nela, uma gente famélica, reduzida aos ossos, homens, mulheres e crianças, removia a terra como um bando de doidos. O que conseguiam catar do chão levavam logo à boca ou jogavam para os filhos, encovados e exaustos, sentados ao redor. A Grande Fome da Batata.

Um quadro paradoxal, sob o ponto de vista humano, então se delineou: enquanto três milhões de irlandeses, num total de oito milhões, eram reduzidos a uma vida de animais, disputando cada grão a tapas e socos, os grandes plantadores continuavam a mandar sacos de cereais para fora. A todos os que sofreram com aquilo, as leis do mercado nada mais pareciam do que maldade e sadismo. Não satisfeitos com isso, as autoridades impediram que carregamentos de comida vindos de outras partes fossem entregues à população a preços subsidiados porque, para elas, tais favores aviltariam os preços do mercado. Um prato barato que se estendesse a um faminto era entendido como um desaforo aos lucros. Parece-me que tal fanatismo doutrinário dos liberais escondeu um acerto de contas contra um povo que o secretário inglês na Irlanda, na época sir Charles Trevelyan, definiu como "egoísta, perverso e turbulento", pois como se sabe os irlandeses nunca se conformaram com o domínio britânico, nem os britânicos chegaram encarar os irlandeses como ingleses mas apenas como colonos ali ao lado e à mão!

A Ilha de Páscoa é um pedaço de terra isolado no Oceano Pacífico, que já chegou a abrigar uma população de 20.000 pessoas no passado, mas seus habitantes se extinguiram no século XVIII, matando-se entre irmãos ou até praticando o canibalismo, depois que foram cortadas todas as árvores, fonte de combustível e de madeira para a construção.

Ainda hoje por uma questão de sobrevivência se coloca a possibilidade de comer um cadáver humano.

A história também é generosa em exemplos de canibalismo durante períodos de fome ou de racionamentos severos.

O avião Cesna 208 bateu em uma montanha na Patagónia, perto da cidade de La Junta, dez minutos antes da hora prevista para aterragem. Os sobreviventes passaram cinco dias dentro da fuselagem quebrada do avião, enfrentando temperaturas abaixo de zero, neve e tempestade. (…) A revelação de que os sobreviventes consideraram comer o corpo do piloto morto fez lembrar o famoso caso do avião que caiu nos Andes em 1972, também no Chile.

O canibalismo de sobrevivência foi abordado no filme Vivos (1992), baseado na história verídica da luta de 72 dias do grupo para sobreviver à queda de um avião na Cordilheira dos Andes, quando os sobreviventes de uma equipe de rugby uruguaia comeram os corpos dos companheiros mortos para permanecer vivos até um possível resgate.

No meio do caminho entre o ritual e a sobrevivência está o caso da tribo Fore, em Papua Nova Guiné, ao norte da Austrália. Ali, o canibalismo foi praticado desde finais do século 19 até a década de 1950.

Até ao final do século XIX, os tiriuós eram canibais. Comiam os inimigos em rituais que começavam com uma capciosa assembleia. Chamavam os adversários para uma reunião de paz, lá ofereciam sakura envenenada quando pura é a cachaça local, à base de mandioca e inhame vermelho. Assim que bebiam, os inimigos morriam.

Depois de mortos, eram comidos, seus ossos triturados e misturados com a carne. Suas mulheres e crianças passavam, então, ao domínio dos tiriuós.

O contacto com o branco encerrou o rito do canibalismo, mas prejudicou também as festas. Antes tínhamos a festa do jabuti, do jacaré, da cobra., lembra Nashau, um dos sub-caciques, que todo domingo põe na cabeça seu cocar de penas vermelhas de arara.

Da loucura do canibalismo de sobrevivência à sobrevivência do canibalismo na loucura terá mediado a ritualização de exorcismos expiatórios!

Nos Estados Unidos, na década de 20, Albert Fish estuprou, matou e devorou várias crianças, afirmando ter um grande prazer sexual resultante de seus atos. Fish ficou conhecido na época como o "Bicho Papão da América". O russo Andrei Chikatilo, que matou pelo menos 53 pessoas entre 1978 e 1990, também era praticante do canibalismo com conotações sexuais. Mas o que diferencia Armin Meiwes dos outros é a natureza consensual do caso. Meiwes conheceu o homem que assassinou e comeu Bernd-Jurgen Brandes, de 43 anos; em 2001, depois de ter colocado um anúncio em sites da internet procurando "jovens corpulentos, entre 18 e 30 anos, para serem abatidos". Meiwes contou à polícia que Brandes concordou que partes de seu corpo fossem cortadas e cozidas. Depois de terem comido juntos, Brandes concordou em ser morto. No entanto, nem mesmo a aparente natureza consensual do ato consegue acalmar os ânimos da sociedade alemã, já que o consumo de carne humana continua a ser um tabu na sociedade contemporânea.

 

COLAPSO POPULACIONAL NO MÉXICO DE 1500

In May 1522 Hernan Cortes wrote to the Holy Roman Emperor Charles V (Charles I of Spain), describing his conquest the previous August of the Aztec city of Tenochtitlan on Lake Texcoco in the Valley of Mexico. ‘No race’, he wrote, ‘however savage, has ever practised such fierce and unnatural cruelty as the natives of these parts’ (transl. Pagden, 1971). One can sympathise with Cortes: he had had a gruelling time restraining his Tlaxcalan allies from killing and eating all the Aztec women and children. But of course the Mexicans are not and were not inherently crueller than other peoples. They were simply experiencing the worst population crisis in recorded history, ending in a population crash unique in combined scale and proportions.

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Throughout this paper, “Mexico” means Central Mexico, excluding a Northern region of barbarian nomads and a Southern region (Yucatan) occupied by the Maya, the subject of our tenth paper. As usual, much lower population estimates have been given for the earlier dates. But the figures on the graph, based on tribute lists and rounded, are plausible in terms of food consumption and probable population density at the time, and in view of the signs of exceptionally severe population crisis. This crisis was in full swing when the Spaniards arrived in 1519, so the crash may have started earlier at an unknown date from a still larger population, as suggested by our dashed line. As shown in our earlier papers, China and India experienced much greater absolute drops in population, and Mycenaean Greece an equally great proportionate drop. But the Mexican combination of scale and proportion is unique. This has sometimes been ascribed to the arrival of new diseases from Europe (smallpox, measles etc) to which the Mexicans had no specific immunity: there were serious epidemics in 1520, 1531-2, 1545 and 1576. But exceptionally low general resistance, due to the stresses of this exceptional population crisis, was probably at least as important as lack of specific immunity, and there were other causes of high mortality, as noted in the text.

In Mexico as in the Old World, irrigation and terracing had brought about high population density, cities, division of labour, trade, and social stratification. The cultivation of chinampas, floating islands on lakes, made possible very high population densities even by Egyptian or Chinese standards - up to 360 people per square kilometre. A succession of brilliant centres of civilisation arose, to succumb in turn to population crises, with famines, epidemics and often destruction of the cities (La Venta, Teotihuacan, Tollan). Barbarians invaded from the North, and set up progressively more stressful civilisations, the Toltecs, the Tepanecs and finally the Aztecs, who conquered almost the whole of Mexico in the fifteenth century AD. -- Population Crises and Population Cycles. 9. Central Mexico and the Andes to the Conquests, Claire Russell and W.M.S. Russell.

 

Ir para: A ORIGEM DO CANIBALISMO Ameríndio, EM PARTICULAR (***)



[1] "In many respects, moral as well as physical, the cannibals live more sensibly than we do....they have a government of sorts, but not one that systematically robs and starves the helpless; they may eat their enemies, but do not burn them alive or torture them to death over doctrinal trivia...-- Montaigne [1533 - 1592]

[2] L'Aliment sacré, Par Christophe Meyer.

[3] L'Aliment sacré, Par Christophe Meyer.

[4] L'Aliment sacré, Par Christophe Meyer.

[5] L'Aliment sacré, Par Christophe Meyer.

[6] L'Aliment sacré, Par Christophe Meyer.

[7] L'Aliment sacré, Par Christophe Meyer.

[8] …porque deixaram de ser eles próprios os caçadores dos animais que comem!

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